sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ceifeira, linda ceifeira



Hoje, um pouco por todo o país festeja-se o 10 de Junho, Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, e o meu pensamento vai para todos os Portugueses espalhados por esse mundo fora. Mas penso particularmente, nas mulheres alentejanas, as ceifeiras de outrora, que sempre tanto lutaram e trabalharam e que, como a minha mãe e milhares de outras Portuguesas tiveram de emigrar para poder oferecer uma vida melhor aos seus filhos.
Mariana, era o seu nome. Um nome muito comum no Alentejo. Um nome doce e harmonioso como os campos de trigo, balançando pela brisa na planície alentejana.
Ela era assim, a minha mãe, pequena e frágil com os seus cabelos castanhos caídos sobre os ombros e os seus olhos verdes azeitona a olhar para nós cheios de ternura. Educada para servir a sua família, o seu marido, os seus filhos, para ela, nunca nada era suficiente para a felicidade dos seus. Então, trabalhava de dia e de noite para que nunca lhes faltasse nada. Ela jamais dizia: “E eu então?! Nunca se queixava, pois para ela, como para muitas mulheres alentejanas, a sua vida era essa. Ficava feliz de nos ver felizes, e isso era suficiente para a fazer feliz. Ela era bonita a minha mãe. De uma beleza simples e tranquila da qual nunca se apercebeu. Mas, a sua beleza era também a sua generosidade, a sua enorme disponibilidade para com os outros. Ela cantava bem, diziam. Mas raramente a ouvi cantar. A sua voz calou-se quando teve de emigrar e deixar muito jovem a sua família para ir ter com o seu marido, num dia frio de Inverno, sozinha com duas crianças pequenas nos braços. Uma vida difícil, num país distante do qual nem conhecia a língua, esperava por ela. Desde então, nunca mais cantou, minha mãe. Os tempos eram duros. Mas como todas as mulheres alentejanas, ela era forte e corajosa. E depressa se adaptou. Mas, tão longe do seu país, como ir às compras? Como cozinhar com produtos que desconhecia, com nomes estranhos, em caixas e frascos estranhos. Tudo lhe parecia estranho. Ela própria não era uma estrangeira?


Mas depois lembrava-se do tempo quando ia à monda, e que partia mal o sol levantava com as suas companheiras. Em rancho, percorriam quilómetros a pé, por estradas e caminhos, até às herdades onde debaixo de um calor abrasador, passavam horas a fio a mondar ou a ceifar o trigo, mas sempre a cantar. Os campos de trigo eram imensos e estendiam-se por largos quilómetros pelo Alentejo adentro, celeiro do país. Não havia, e não há, como o Alentejo para produzir o melhor pão do mundo. Cozido em forno de lenha, o seu cheiro e a sua crosta estaladiça entontece-nos como o mais saboroso dos pecados. Uma grande parte da gastronomia alentejana era, e é, a base de pão, sustento de muitas famílias. Mas, naquele país, a minha mãe, sem o seu pão alentejano, sentia-se perdida. Como fazer as suas açordas com um pão chamado “baguette”? Então, arregaçou as mangas, e pôs-se a cozinhar o seu tão amado pão.
A minha mãe já partiu, mas não foi em vão, pois deixou-me não o seu jeito para a cozinha, isso queria eu, mas sim as receitas dos seus pratos maravilhosos.
É por esta razão, e para perpetuar a sua memória e a de todas as mulheres alentejanas  que um dia também tiveram de abandonar tudo e todos, que decidi  partilhar consigo não só as receitas da minha mãe, mas também as do povo alentejano, fáceis de realizar, com um sabor particular, pois cozinhadas com amor e com produtos e ingredientes de excelência produzidos no nosso Alentejo. 




A minha receita de hoje, como não podia deixar de ser:

Como fazer pão alentejano?


PÃO ALENTEJANO

Ingredientes

Para o pão
500 g de farinha T 65
14 g de sal por cada kg de farinha
300g de água morna

Ou se optar por fazer o fermento em casa
90 g de farinha,
50 g de água morna  
5 g de fermento de padeiro fresco


Preparar o fermento com um pouco de farinha, água, sal e deixar levedar de um dia para o outro como os antigos faziam.
No dia seguinte quando ficar azedo, deitar a farinha num alguidar bastante grande.
Fazer uma cova na farinha. Colocar o fermento dentro do buraco e desfazer a farinha pouco a pouco com a mão, misturando a água morna e o sal, até que a farinha ensopa totalmente a água. Misturar tudo até fazer uma bola. Amassar, batendo com os punhos até fazer uma bolha de ar.

Deixar a massa repousar 2 horas para levedar. Cobrir o alguidar para não formar côdea. Depois de crescer a massa, cerca do dobro, descolar a massa do alguidar com as mãos enfarinhadas.



Cortar a massa e moldar o pão numa superfície enfarinhada. Para 1 kg de pão, moldar 1,2 kg pão, pois o forno “come” 200g ao pão. (Retirar cerca de 150g de massa para a próxima vez que cozer pão, e conservar durante 3 dias no frigorífico ou guardar no congelador).


Para fazer as “cabeças” do pão tradicional do Baixo Alentejo, puxar a parte mais estreita da massa e colocar por cima da parte mais larga.
Depois de moldado, deixar repousar a massa coberta pelo pano mais meia hora.

Polvilhar um tabuleiro com farinha, e colocar o pão, enfarinhando a superfície do mesmo.



Levar ao forno, que foi pré-aquecido, e deixar cozer cerca de uma hora, no forno a lenha de eucalipto a 250º.
No forno eléctrico cozer o pão a 275º nos primeiros 5 min e posteriormente baixar a temperatura para 200ºC. durante uma hora, os pães de 500 gramas cozem durante 30-45min.




 


Retirar e já está!!!






Enquanto fica a saborear este delicioso pão, aproveite para ouvir esta linda música dedicada às mulheres ceifeiras. 



(vídeo toyvitoria)

2 comentários:

  1. Lindo verdadeiramente.
    Para se usufriuir de vários modos e de bom estado de sentimemto.

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  2. Espero que este "Delicioso Alentejo" lhe permita manter sempre esse "bom estado de sentimento" e que aqui encontre um pouco da paz e tranquilidade existentes no Alentejo. Bem haja.

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