sábado, 28 de maio de 2011

SABEDORIA DE UM POVO

Se há algo que os Alentejanos gostam de fazer é comer, e mais precisamente petiscar. Não há ninguém que por aqui passe e prove as típicas iguarias alentejanas que não fique encantado com a oferta culinária rica em cores, sabores e cheiros. Eu sei, que já existem muitos sítios onde encontrar essas receitas. Mas, estive muito tempo a pensar, e em boa Alentejana que sou, levei algum tempo a decidir-me. Mas agora já está. Dei o primeiro passo, criei este blogue. Não gostaria que este fosse mais um. Gostaria sim que fosse aquele em que os Alentejanos, e todos aqueles que amam o Alentejo, se revejam, e onde toda a gente de forma singela, possa encontrar aquilo que este “Lindo” e “Delicioso” Alentejo tem para oferecer.




Mas quero aqui também partilhar alguns saberes que me foram transmitidos pela minha mãe e que ela própria aprendeu com a sua. Mostrar como elas sabiam misturar os ingredientes certos para obter pratos que produziram em mim sensações que nunca mais saíram do meu sentido. Por isso, não pretendo fazer concorrência a nenhum cozinheiro, nem tão pouco pretendo ser detentora das receitas verdadeiras e autênticas. Pois, cada terra e zona e mesmo pessoa, deste vastíssimo Alentejo, tem a sua maneira de cozinhar. Nem tão pouco, me tenho como grande cozinheira. Sou sim, uma grande apreciadora desta comida tão particular, das emoções que ela produz em mim e sobretudo sou amante dos maravilhosos momentos de prazer e de felicidade que um bom prato proporciona quando comido em companhia das pessoas que mais amamos, sejam elas familiares ou amigos ou também por que não dizê-lo colegas de trabalho? Sim, porque quanta felicidade não está por detrás de um bom prato de “cozido de grão”, quer seja num jantar com amigos, ou num almoço de domingo com a família?
Ninguém me tira da ideia que se todos pudéssemos ter essa sorte de partilhar essa alegria, muito mais sorrisos iluminariam os rostos de todos nós.
Assim, através de receitas, convido-os a acompanhar-me nesta viagem, deixando aqui e ali, se assim o entenderem, as vossas receitas e sugestões, para que este possa vir a ser um ponto de encontro e de divulgação do património e identidade do Alentejo, sem grande ciência, mas com a sabedoria milenar do seu povo.

O difícil com as receitas da minha mãe, é que era já tão grande a sua sabedoria na cozinha, que ela, como muitas das mulheres alentejanas, cozinhava a olho e por intuição. Mas enfim, bastará, quando cozinhar, ajustar os temperos ao seu agrado. O dedinho final é seu. Aqui os gostos não se discutem, pois é tudo tão delicioso.

Esta receita é para a minha amiga Teresa, que não hesita em percorrer dezenas de quilómetros para comer um bom cozido de grão. E como ela tem razão!!!

                                                                                          



Vamos a isto. Empurre a porta, entre neste monte alentejano e venha cozinhar comigo!











COZIDO DE GRÃO

Ingredientes:

½ l grão para +/- 4 pessoas

600 g de carne (vaca e/ou peru, frango, porco),
150 g toucinho
2 chouriços (preto e encarnado)
1 linguiça
2 batatas
1 cenoura cortada aos bocados
1 tomate maduro
1 cebola média cortada aos pedacinhos
1 pé de salsa
2 dentes de alho cortados
Pimenta, noz de moscada
2 cravos de cabecinha
cominhos
1 caldo de galinha

No dia anterior, deixa-se o grão a demolhar em água fria. De manhã, esfrega-se com sal e depois lava-se bem para tirar o sal e as peles.
Pôr os grãos na panela de pressão, com a carne, toucinho, chouriço preto e encarnado e a linguiça. Acrescentar água e deixar cozer +/- uma hora. Se achar que tem pouco toucinho ou gordura, pode acrescentar um pouco de azeite.
Quando estiver cozido, juntar as batatas cortadas aos bocados, 1 caldo de galinha, a cenoura, 1 tomate inteiro, cebola, salsa, 1 ou 2 dentes de alho, pimenta, noz de moscada, 2 cravos de cabecinha, cominhos e sal. Deixar cozer dentro da panela (+/- 15 min).

Deitar o grão numa travessa e as carnes e enchidos noutra. No final, acrescentar um raminho de hortelã por cima do grão.
Pode também migar pão de véspera numa terrina e deitar o caldo do grão por cima, e terá maravilhosas sopas de pão a acompanhar o grão. Não esqueça a hortelã.

Sopa de grão
Para fazer uma sopa do cozido de grão, se houver pouco caldo, acrescentar água e manteiga, deixar ferver. Acrescentar massa de cotovelo pequeno, deixar cozer. No final, deitar um pé de hortelã.


    

E já está.
Consegue sentir o aroma deste delicioso manjar?










Delicie-se ainda mais ouvindo esta linda canção “É tão grande o Alentejo” de Dulce Pontes e os Ganhões de Castro Verde



(Vídeo de mariadoalentejo)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Delicioso Alentejo

Feche os olhos. Imagine-se deitado num campo. Uma brisa suave percorre-lhe a pele. No ar, um aroma delicado a flores e a ervas. Por cima da sua cabeça, um céu azul maior que o horizonte. O tempo corre devagar, devagarinho.





Ao longe, ouve o piar de uma cotovia, enquanto o sol lhe aquece os sentidos.


(vídeo de Nana Pereira)


Respire fundo, e deixe-se levar pelo sonho. No alto de um monte, há uma casa, toda caiada de branco.



Aproxime-se. Empurre a porta e entre. Debaixo da sua enorme chaminé, está uma panela ao lume. Destape a panela, um cheirinho a carne e hortelã apodera-se de si. Ao lado, um pão ainda quente e estaladiço. Sem vergonha, corte um pedaço e molhe-o no molho. Deleite-se com este pitéu. Agora, sente-se à mesa. Oiça crianças a rir e vozes de homens e mulheres a cantar. Abre-se uma porta e a sala enche-se de familiares e amigos. Todos sentam-se consigo à mesa, e ali ficam horas e horas a comer e a beber em grande comunhão. Sinta uma enorme felicidade e tranquilidade a invadi-lo.
Sem abrir os olhos, pegue em todas as cores, cheiros, sabores, texturas e sentimentos que o seu cérebro lhe transmite, ponha todos esses ingredientes num ecrã, com o rato misture tudo, e “clique”. Agora, abra os olhos e venha descobrir esse seu lugar desconhecido mas tão maravilhoso e escondido no mais profundo do seu ser. Venha conhecer esse DELICIOSO ALENTEJO. Deixe-se encantar pelas suas histórias, o seu povo, a sua flora e fauna, as suas paisagens e principalmente a sua gastronomia. É através desta que, se me permite, tenciono viajar consigo, e mostrar-lhe à minha maneira, através deste blogue, por que razão se sentiu tão feliz. Pois, todos temos um pouco do Alentejo dentro de nós.

Então vamos a isto. Deixe-se seduzir pela primeira receita, que penso poderá ser considerada como o “ex-libris” da cozinha alentejana. Venha saborear a cheirosa e saborosa açorda de coentros (ou poejos), um dos pratos mais fáceis de confeccionar e que sabe sempre bem. Venha cozinhar comigo.


AÇORDA

Ingredientes: (4 pessoas)

- 1 molho de coentros ou um pouco de poejos (também pode ser uma mistura das duas ervas. Cuidado com a quantidade de poejo pois tem um sabor muito acentuado)
- 2 a 4 dentes de alho,
- 1 colher de sopa cheia de sal grosso,
- 4 colheres de sopa de azeite,
- 1/5 litro de água a ferver,
- Pão duro caseiro (com um ou alguns dias)
- 4 ovos.


Ponha a água ao lume e quando estiver a ferver, deite os ovos inteiros.



Entretanto, pise os dentes de alho num almofariz com o sal e os coentros ou poejos, até que fiquem numa papa.



Coloque tudo numa terrina, e se quiser acrescente pimento verde. Regue com azeite. Deite por cima a água a ferver. A minha mãe punha-lhe um pouco de vinagre. Mexa bem e junte-lhe o pão cortado em finas fatias. Os ovos são colocados no prato ou sobre as sopas na terrina.




Açorda de bacalhau
Se quiser que fique mais saborosa e rica, pode pôr a cozer duas ou três postas de bacalhau. Um pouco antes do peixe estar cozido, deite os ovos inteiros na água e deixe escalfar.
Na terrina, escalde a papa com a água do peixe, acrescente o vinagre. Junte-lhe o pão. Coma o bacalhau com as sopas e o ovo.

Nota: O bacalhau põe-se a dessalgar de um dia para o outro, numa terrina com água. É necessário mudar a água de vez em quando.
Quando não tenho bacalhau, também cozinho com pescada fresca ou congelada e fica igualmente muito saborosa.  

Gostou? Então, agora que tal descansar um pouco com esta linda canção do António Zambujo: Trago Alentejo na Voz.

(vídeo de xicamanela89)