quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Como é grande o Alentejo


Quanto espaço cabe no Alentejo? Aqui, costuma-se dizer: existe todo o espaço do mundo.


O horizonte não tem fim e, o céu é maior que em qualquer lugar.




Um céu tão grande que ultrapassa todos os territórios, e até as nuvens têm as cores da bandeira portuguesa.
















Por terra e por mar, aqui há espaço para se deslocar. Espaço para ver. Espaço para pensar e relaxar.
Espaço para ouvir. Espaço para sentir, sonhar e amar.







É este espaço que tem moldado a alma do Alentejano. Alma nobre, aberta e amiga. Quem conhece o Alentejo e o seu povo sabe de que estou a falar. Aqui, não há lugar para pequenos sentimentos. O Alentejo é grande como grande é o coração desta gente.

Povo sofrido tem sabido aproveitar melhor que ninguém todos os produtos que a terra lhe tem dado. E é talvez deste céu imenso que tem retirado toda a sua força.
Se como Luísa Basto for ao Alentejo, aproveite  e “Olhe que céu azul com nuvens de poejo veio morar aqui”.



(Canal mariadoalentejo)

E eu, como sempre, quero que após ter estado neste blog saía daqui satisfeito e contente. Por isso, juntando o útil ao agradável, aqui deixo uma pequena receita feita com sobras de pão. Nunca sabemos o que fazer com elas, e custa-nos tanto deitá-las fora, principalmente agora que se avizinham tempos difíceis. Espero que a sua vida fique um pouco mais doce, pois como diz o ditame: “quando não se tem champanhe, bebe-se espumante”.



BOLO DE PÃO

Ingredientes:
250 g de pão
500 g  de leite frio
200 g de açúcar
6 ovos
1 colher de chá de canela
Raspa de um limão
½ cálice de vinho do porto

Caramelo
300 g açúcar
Um pouco de água

Deitar o pão numa terrina e demolhá-lo no leite frio.
Com uma varinha mágica, bater os ovos, o açúcar, a canela, o vinho do Porto e a raspa do limão e o pão demolhado.







Preparar o caramelo, levando +/- 300g de açúcar com um pouco de água ao lume (médio) até formar uma calda cor de caramelo.
Untar uma forma com esse caramelo, juntar o pão e levar ao forno até estar cozido.


Desenforme depois de ter arrefecido e sirva decorado à sua maneira.
Se quiser tornar o bolo mas rico, pode acrescentar nozes ou passas.
Diga lá se não está simplesmente delicioso?

domingo, 2 de outubro de 2011

Olha o “Vai de Roda”! - Sopas de safio com batatas




O Alentejo, apesar de ser considerado uma das regiões mais pobres da Europa, paradoxalmente, é de uma riqueza extraordinária no que diz respeito às tradições, costumes, hábitos e modos de vida.
Algo que aqui é muito particular, são as alcunhas.
Não há terra nenhuma no Alentejo que não tenha os seus alcunhados. Já o meu pai me contava sempre a história de um lisboeta que, um dia, numa conversa de amigos lhe diziam:
- Na minha terra todos têm alcunhas.
- Não vás à minha terra senão vens de lá com uma.
- Ainda bem que me avisam pois assim quando lá passar, vou de roda.
- Olha, olha, o “Vai de Roda”!

E assim, sem mesmo lá ter posto os pés, ficou com a alcunha do “Vai de Roda”

A palavra alcunha deriva do árabe “al-kunia”, que significa cognome, sobrenome, e traduzia uma relação de paternidade que identificava os descendentes.
As alcunhas proliferam, em geral, no espaço rural, servem para descrever, de forma rápida e eficaz, os aspectos essenciais de um indivíduo. Numa pequena comunidade ou aldeia existe um número reduzido de apelidos familiares para muitos utilizadores (pai, filhos, sobrinhos, etc.), por isso terem de recorrer a outra forma de identificação.
A alcunha pode ser provocada por: paródia, inveja, discriminação, competição, gozo, prazer…ou ainda para marcar a distância social, a crítica ou o prestígio.
Podem ser ainda características físicas, uma profissão ou actividade, um grupo ou um lugar geográfico.
Do Alto ao Baixo Alentejo, todas as terras têm as suas alcunhas, algumas até são comuns em várias localidades.


Delicie-se com estes exemplos, retirados do livro, “Tratado das Alcunhas Alentejanas”, resultado da pesquisa realizada pelos autores Francisco Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva (Edições Colibri), sobre as alcunhas no Alentejo. Uma verdadeira pérola! E uma sugestão de leitura para os serões de Outono e de Inverno que se aproximam.

Abundância: indivíduo que era pobre
Açucareiro: mulher que colocava as mãos nas ancas
Cafeteira: designação atribuída a um indivíduo cujo nariz se parece com uma cafeteira
Caga e tosse: indivíduo que tossia e deitava gases ao mesmo tempo
Barbas de chibo: o alcunhado tem pouca barba
Ça Va:  Indivíduo que esteve em França, quando regressou dizia, frequentemente esta expressão
Cabide: indivíduo com os ombros muito altos
Duzentos e cinquenta Gramas: indivíduo muito magro
E Tudo o Vento levou: indivíduo que era careca.
Engomadinho: indivíduo muito preocupado com a sua aparência
Feito por engano: indivíduo que é muito bruto
Fita cola: indivíduo que gosta de impor a sua presença às outras pessoas
Guarda- chuva: indivíduo que quando fala cospe para cima das outras pessoas
Hidrovião:indivíduo que costuma andar aos pulos
Injecção: indivíduo que tinha um café e praticava preços muito altos
Jornal das Nove: indivíduo que é muito bisbilhoteiro
Lixívia: indivíduo muito sujo
Mal te Vejo: indivíduo de baixa estatura
Marrafinha: ndivíduo que faz muito bem o risco no cabelo
Notícias: Indivíduo que sabe todas as notícias
Óculos embaciados: rapariga que andava sempre com os óculos por limpar
Ovni: mulher muito despistada e muito aérea
Palmilhas: indivíduo com os pés muito grandes
Parabólicas: sujeito com orelhas muito grandes
Pavão: indivíduo muito vaidoso
Peidinho de cera: sujeito que deita gases muito suavemente
Quarenta cabelos: sujeito que é careca
Roupa solta: indivíduo que nunca usa cinto
Salta e Pula: indivíduo que anda sempre com pressa
Tá Teso: indivíduo que anda sempre com falta de dinheiro
Um Quarto Pr’às Duas: indivíduo com os pés para o lado.
Vai Agora: indivíduo que ajudava as pessoas a atravessar as ruas
Vassourinha eléctrica: mulher muito dinâmica
Zaragatoa: indivíduo que anda sempre a meter o dedo no nariz
Zélia do Cheirinho: mulher que tem conhecimento muito rápido de todas as novidades.


E, para acompanhar a sua leitura, e por que ontem se festejou o Dia Mundial da Música, deixo aqui uma pequena maravilha da natureza.

Um concerto como certamente nunca ouviu, ou simplesmente até hoje, nunca pensou que seria possível ouvir. Pois, isto não se passou no Alentejo. Ou será que foi? Não sei. Só sei que aquilo que vamos ouvir é somente o canto dos grilos, gravados em duas velocidades. Uma velocidade normal e outra numa versão mais lenta, sem qualquer instrumento ou vozes.

Oiça com atenção e da próxima vez que estiver no Alentejo, aproveite para apreciar melhor o cante dos grilos. 


A natureza não é simplesmente admirável? 


Bom ficou com fome?
A nossa proposta para hoje:


SOPAS DE SAFIO COM BATATAS

Ingredientes: 
1 kg safio previamente salgado (só da parte do peixe aberta, que é a que tem menos espinhas)
700 gr batatas cortadas em cubos
Azeite
1 folha de louro
1 cebola, cortada em pedaços
Um raminho de salsa
2 dentes de alho
1,5 kg de água
Pão duro
Sal
Vinagre


Num tacho fazer um refogado com a cebola picada, 2 dentes de alho, uma folha de louro cortada em 4 partes, azeite e um raminho de salsa.
Deixar refogar em lume brando para que a cebola fique apenas mole e não frita.
Deitar a água a ferver, temperar com sal e mexer tudo. Colocar as batatas e o peixe ao mesmo tempo. Deixar cozer.


Entretanto, cortar as fatias de pão em pedaços, colocá-las numa terrina.









Depois de cozido, e antes de servir, deitar vinagre. Retirar o peixe e as batatas para uma travessa, e deitar a água na terrina com o pão.















Bom proveito!