quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sonhos de Natal e fraternidade

Dia de Natal
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão

Nesta quadra natalícia, lembrei-me deste poema, que me faz sempre reflectir sobre a importância do Natal e daquilo que ele significa realmente.
Se bem que António Gedeão não seja alentejano, ele foi um dos maiores poetas portugueses. As suas eternas poesias marcam-nos pela simplicidade com que retratam tão bem a nossa vida.
E recordo-me dos natais há alguns anos atrás, quando não havia tanto consumismo, e que todos juntos à lareira se passava a noite da consoada a comer nozes e castanhas, a cantar e a contar histórias.
Pelo Natal, geralmente comiam-se carne de porco frita e peru habitualmente guisado com batatas e sopas de pão. O bacalhau chegou mais tarde. Bebia-se um copinho de vinho. As filhoses, o arroz doce, as fatias de ovos, o bolo de mel, o bolo de requeijão, os sonhos e o café servido na “chocolateira” não podiam faltar. A família estava reunida e os presentes quando os havia eram abertos na manhã do dia 25. Um Natal bem diferente daquele que hoje temos. Por um lado, felizmente que assim é, pois apesar das dificuldades, as pessoas vivem melhor, mas por outro lado, perdeu-se um pouco o espírito natalício, que deveria ser um momento de maior solidariedade, fraternidade e amizade entre todos nós. As pessoas não tinham tanto dinheiro mas não era por isso que eram menos felizes. Encontravam a sua felicidade nas pequenas coisas da vida. De alegria em alegria, conseguiam dar um pouco mais de alento às suas vidas às vezes tão difíceis.
É este espírito que tento dar à minha vida. Não vale a pena pensar que um dia quero ser feliz, pois estou constantemente a adiar essa felicidade e não dou valor àquilo que é realmente importante. Há que ser feliz aqui e agora. Hoje, posso afirmar que foi no Alentejo que aprendi a olhar com outros olhos tudo aquilo que me rodeia: a natureza no seu esplendor, o céu imensamente azul e infinito, as paisagens a perder de vista, o voo dos pássaros, a beleza das casas caiadas de branco, os castelos, os rios, as estrelas, o ar puro, a simplicidade e generosidade dos alentejanos, o seu cante, o valor da amizade, e sem dúvida, aprendi a apreciar ainda mais a gastronomia alentejana, com as suas sopas, cozidos, ensopados, enchidos, doces e os seus deliciosos petiscos. Movo-me no meio desta riqueza. Tudo isto me tornou numa pessoa mais rica, mais responsável com o meio ambiente em que vivo, mais feliz e, espero eu, mais humana.  
Foi minha humilde intenção tentar partilhar convosco um pouco desta alegria, serenidade e tranquilidade que o nosso maravilhoso e delicioso Alentejo me transmite.
Esse Alentejo, não está só nesta região a sul de Portugal, este Alentejo de paz, amizade e solidariedade temo-lo todos no nosso coração.

Passem um bom e feliz Natal rodeados de tudo aquilo que vos trás alegria, e que o próximo ano seja o mais delicioso possível.
Obrigado aos que têm seguido este blog. Um abraço para todos e um muito especial para os emigrantes que estão tão longe da sua terra e da sua família.

E para que os vossos sonhos se tornem realidade, comecem já por concretizar estes aqui. Este é o meu presente para vocês, um mundo onde os sonhos "ainda comandam a vida"!


SONHOS DE ABÓBORA DE NATAL


Ingredientes:

abóbora
Casca limão
manteiga
1 cálice de aguardente
3 ovos
Sumo de 2 laranjas
Açúcar
farinha com um pouco de fermento
canela

Preparação:
Cozer a abóbora em pouca água, juntamente com a casca de limão e um pouco de manteiga e aguardente. Depois de ferver, juntar o sumo das laranjas, a farinha, e misturar até a massa se despegar do fundo do tacho. Deixar arrefecer e misturar os ovos, bater até ficar em ponto.
Numa frigideira, deitar colheradas de massa em óleo a ferver. Retirar quando estiverem bem lourinhos e passá-los por açúcar e canela.


domingo, 11 de dezembro de 2011

Cante alentejano, património cultural imaterial da humanidade



No Alentejo todos cantam e raros são aqueles que não sabem cantar.
Canções misteriosamente carregadas de tristeza, mas sempre cheias de filosofia popular, que prendem à terra ou ao amor, ao lirismo dos montes e da solidão dos campos. Canções que exprimem sentimentos, como a melancolia, os anseios, as saudades, a alma expressa na lembrança da terra e dos lugares onde se nasceu.

A maioria das canções são tristes, mas podem também ser alegres, irónicas ou até humorísticas, mas são sempre uma extraordinária fonte lírica, onde as vozes trémulas e vibrantes, vindas do mais fundo do ser humano, ostentam céus extremos, campos de trigo e de estevas.  As suas origens não se conhecem bem, embora se pense que poderão vir tanto do canto gregoriano como do árabe.  

São estas canções de camponeses, que se têm perpetuado de geração em geração, que definem a alma do povo alentejano e, de certa forma também do povo português, e que hoje, se continuam a cantar nas associações ou nas tabernas e cafés, ou em qualquer lugar desde que haja vontade.
 Por isso, e bem-haja a todos os intervenientes, a candidatura do cante alentejano a “património cultural imaterial da humanidade” será apresentada a 30 de Março de 2012, na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em Paris (França).
A ideia da candidatura partiu de um desafio lançado ao presidente da autarquia de Serpa, João Rocha, pelo embaixador Fernando Andresen Guimarães, ex-presidente da Comissão Nacional da UNESCO, aquando da preparação da candidatura desta cidade à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, no tema Música".
A Confraria do Cante Alentejano, a Casa do Alentejo e a Associação MODA são os promotores desta candidatura liderada na comissão de honra pelo presidente da República, Cavaco Silva, da qual fazem parte também: o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, o bispo do Porto e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Manuel Clemente, o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Rui Vilar, e o comendador Rui Nabeiro. A presidir à comissão científica está o musicólogo, Rui Vieira Nery,
Vários documentos irão ser apresentados, estando prevista a elaboração de uma recolha e estudo do cancioneiro e discografia do cante alentejano, a inventariação e caracterização dos grupos corais e uma compilação ilustrada de histórias de vida de cantadores e de grupos corais.
Enquanto isso não se faz, recomendo, desde já, a leitura da obra de José Francisco Pereira  intitulada “Corais Alentejanos” (Edições Margem,1997). Este primeiro trabalho de recolha e de reflexão sobre a problemática do “Cante Alentejano” serviu de suporte e motor do “Congresso de Cante Alentejano”, realizado, em 1997, em Beja.
E, como bons alentejanos que somos, também podemos contribuir para a divulgação da nossa cultura. Eis o link do manifesto do Cante alentejano, que podem subscrever http://www.peticaopublica.com/?pi=P2011N17409.






E a minha sugestão de hoje, para desejarmos boa sorte a esse lindo projecto, que tal saudarmos esta iniciativa com um delicioso licor de bolota?  

LICOR DE BOLOTA


Ingredientes
1 l de aguardente
300 g de bolota de azinheira
800 g açúcar
6 dl água
3 cascas de limão
Filtros para licor
Descascar bem as bolotas e pisá-las ligeiramente. Deitá-las num frasco de boca larga e acrescentar a aguardente. Rolhar bem.
Deixar de infusão durante cerca de um mês, agitando a mistura de vez em quando.
Pôr ao lume o açúcar, as cascas de limão e 6 dl de água.
Depois de ferver, deixar cozinhar por mais cerca de 4 a 5 minutos em lume brando.
Deixar arrefecer e misturar essa calda com a aguardente coada.
Deixar repousar durante umas horas, e filtrar o licor para dentro de garrafas, às quais poderá acrescentar 2 ou 3 bolotas lavadas. Guardar as garrafas bem tapadas.   

Um delicioso licor para a consoada de Natal.


Saúde!
Ao cante alentejano e principalmente à cidade de Serpa por ter aceite este  desafio. E agora, o Grupo Coral e Etnografico da Casa do Povo de Serpa.


 

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Chaminé alentejana - Filhoses de Natal




As casas típicas alentejanas caracterizam-se pelas suas chaminés. Supostamente de origem árabe, elas podem ser cilíndricas, quadradas ou rectangulares.
No alto das chaminés, costumam estar cata-ventos, representando figuras variadas em função das localidades como galos, peixes, cães ou D. Afonso Henriques montado no seu cavalo. Algumas estão datadas.  Todas são verdadeiras obras de arte.


As suas dimensões variam e podem chegar até aos três metros de altura, com um metro de diâmetro. Diz-se que o seu tamanho representava o estatuto social de quem as mandava construir, podendo até existir várias chaminés num mesmo telhado.


A chaminé era um local chave na casa, pois era por baixo da sua abóbada que a família se costumava reunir. Ali se cozinhava, se contavam histórias aos serões, se recebiam os convidados à volta da fogueira e até se penduravam os enchidos para secarem. Mas as chaminés e principalmente as de “escuta” tinham essa coisa maravilhosa que lhes permitia devido ao seu tamanho, ouvir tudo o que se passava na rua. O que se revestiu de grande importância, pois parece que durante a Inquisição, os cristãos novos dando-se conta do que se passava lá fora, tinham tempo de fugir ou de esconder qualquer objecto religioso capaz de os comprometer perante os inquisidores.
Hoje em dia e agora que o frio já se faz sentir, as chaminés voltam a acender-se, e no ar paira um leve e delicioso odor a lenha queimada. Respira-se um ambiente como não há outro igual.
 E agora, imagine-se depois de um longo dia de trabalho, sentado confortavelmente debaixo de uma destas grandes chaminés. Lá fora está frio e chove. A trovoada aproxima-se e a chuva cai cada vez com mais força. O seu olhar fixa-se no lume e ouve o som suave e langoroso de um cante alentejano misturado com o crepitar da lenha a arder e o barulho da chuva a bater nas janelas. As chamas dançam para si, e projectam a sua sombra nas paredes da chaminé. A temperatura está agradável, e sente-se invadido por uma doce e agradável sensação de paz e tranquilidade.



Aproveite este momento, pois nesta altura de grandes conflitos, só conseguiremos afastar-nos das nossas preocupações e vencer todos os obstáculos se nos mantivermos em harmonia e em equilibro connosco. Por isso, nada melhor do que dar mais importância a estes pequenos momentos de prazer. Estes ninguém nos tira.
Como vê para ser feliz, não é preciso grande coisa. Uma simples lareira e um bom lume. Claro se juntar a isto os seus amigos e familiares, um bom livro para ler, a sua malha ou croché, com um copinho de vinho, chá ou café e uns bolinhos, a felicidade estará mais completa. 
Assim, para que não lhe falte nada, e como estamos perto do Natal, chegou a hora de começarmos a pensar nos doces de Natal. Hoje, vamos às filhoses com aguardente. Fininhas e saborosas tal e qual a minha mãe fazia. 

FILHOSES DE NATAL
Ingredientes
1 kg farinha de trigo sem fermento
3 laranjas cortadas ao meio
3 ovos
1 copo de aguardente
100 g banha derretida
3 a 4 colheres de sopa de azeite previamente aquecido com uma côdea de pão (para lhe retirar a acidez)
Óleo para fritar q.b
sal q.b

Pôr a farinha num alguidar, fazer uma cova e espremer o sumo das laranjas dentro da cova. Deitar os ovos, o sal e a aguardente.
Entretanto aquecer o azeite. Quando estiver quente, fritar uma côdea de pão para lhe retirar a acidez.
Depois retirar a côdea e deitar o azeite na farinha juntamente com a banha derretida. Amassar muito bem.
Pôr um pouco de água a ferver com as cascas das laranjas, mas só durante 2 a 3 minutos para não amargar.
Regar pouco a pouco a massa com a água quente das cascas, à medida que vai secando. Continuar a amassar até que a massa não pegue nas mãos. A massa tem de ficar quente para se poder esticar bem. Pode cortar a massa em dois pedaços e amassar uma metade de cada vez.
Polvilhar a mesa com um pouco de azeite e experimentar esticar um pouco de massa. Se ela se partir ainda não está boa. Continuar a amassar até que fique mais elástica e se consiga esticar bem. Depois com o rolo (ou se não tiver uma garrafa de vidro) untado um pouco de azeite estender devagarinho a massa o mais finamente possível. Cortar a massa com uma recortilha em forma de rectângulos ou quadrados e fazer três riscos ao meio. Pegar delicadamente e colocar numa toalha para ir secando.
Depois de estendidas todas as filhoses, fritá-las em óleo quente, onde também previamente se fritou uma côdea de pão. Virar as filhoses no óleo e retirar logo a seguir para não ficarem queimadas.
Colocar numa travessa. Na altura de servir polvilhar com açúcar.


O meu pai costumava, e já era quase uma tradição para ele, na manhã do dia de Natal, ao pequeno-almoço, comer uma filhós com um copinho de aguardente. Uma delícia, dizia ele!

sábado, 19 de novembro de 2011

Vencer a crise-Sopas de toucinho com poejo

Tinha prometido que neste blogue só abordaria temas que falassem do nosso Alentejo naquilo que ele tem de melhor. Mas quando todos os dias abrimos os jornais ou ligamos a televisão e que só ouvimos falar em crise, como fingir que nada se está a passar e assobiar para o lado? Estamos em crise. Pois estamos, mas em crise já estamos há muito tempo, principalmente no Alentejo que sempre foi uma região sacrificada. Mas agora, como antigamente, acredito, que uma vez mais os Alentejanos vão saber mostrar o seu carácter, determinação e força para enfrentar esta terrível situação. Vamos ter de voltar às nossas sopas? Não se apoquentem, pois adaptando a frase de Fernando Pessoa, atrevo-me a dizer: “Tudo é saboroso quando a arte não é pequena”.


Lembram-se quando nos campos não havia trabalho, e que tudo servia para sustentar uma família? As pessoas eram obrigadas a comer as ervas que encontravam nas margens das ribeiras ou das terras baixas. Um pouco de água, pão duro, uns coentros ou poejos, azeite e um alho e lá se fazia uma bela açorda.

E foi assim, que não havendo mais nada, os comeres pobres alimentavam famílias inteiras. Beldroegas, cardos, acelgas, poejo, coentro, óregãos, sarramago, espargos, alabaça, hortelã da ribeira eram ervas espontâneas e sazonais que cresciam cada uma em sua época do ano. Era só apanhá-las e saber cozinhá-las. Assim, nasceram as açordas, as migas, os calduchos, ou seja, a base da gastronomia alentejana que hoje é tão apreciada. Com pouco souberam criar verdadeiros pitéus, que hoje fazem parte do património gastronómico deste povo. Nas famílias mais abastadas, também rurais, estes manjares eram enriquecidos com peixe assado na brasa, carne frita ou linguiça e queijo.

Em todas as estações do ano encontram-se estas ervas aromáticas, assim e só para citar algumas, e sem ser demasiado rigoroso, pode-se dizer que crescem:
Entre Janeiro e Março: poejos, alabaças, arrabaças e espargos
De Abril a Junho: correóis, cardinho
Maio e Julho: beldroegas
Setembro até Outubro: silarcas,
Novembro e Dezembro: pampilhos, sarramagos
Em Agosto é mais difícil encontrar qualquer destas ervas pois o calor intenso não é propício ao seu crescimento. No entanto, algumas podem ser cultivadas. Eu por exemplo tenho coentros, poejos e também hortelã na minha hortinha caseira.

E porque com o frio que ai vem é tempo de se aquecer o corpo, assim, hoje proponho uma sopa de tomate com toucinho e poejo, erva que com sorte se pode encontrar ao longo do ano junto às ribeiras e barragens, e que é excelente para ajudar a curar as constipações e a tosse.


Sabia que os poejos pertencem à família das mentas (hortelã e hortelã da ribeira) são conhecidos há séculos em todo o Mediterrâneo e Ásia ocidental pelas suas propriedades relaxantes quando tomados em infusão. O poejo também é recomendado como expectorante, contra a gripe, tosse crónica, calmante para o sistema nervoso, constipações, insónias, dores reumáticas, acidez do estômago, fermentação, enjoo, bronquite e asma. Em Portugal é usada para culinária, infusões e também para o fabrico de licor, principalmente no sul do país. Por extracção de um óleo essencial, também pode ser usada em aromaterapia. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Poejo).

Ora vamos lá.

SOPAS DE TOUCINHO COM POEJOS E TOMATE

Ingredientes:
Pão duro
Água
2 ou 3 colheres de azeite
200 gr de tomates maduros sem pele (ou uma lata pequena de tomates)
1 cebola
3 dentes de alho
1 folha de louro
Poejo q.b
Pimento vermelho q.b
1 ovo por pessoa

Fritar o toucinho com um pouco de azeite (facultativo), uma folha de louro e um dente de alho. Quando frito reservar para um prato. Colocar a gordura do toucinho num tacho juntamente com o tomate, a cebola picada e o resto do alho picado. Deixar amolecer. Quando começar a levantar fervura, acrescentar um prato fundo de água por pessoa. Deixar ferver um pouco.

Escalfar os ovos e colocar o pimento e 2 pernadinhas de poejo +/- 1,5 minutos, para não ficar com muito sabor a poejo e o pimento não ficar muito cozido. Retirar o poejo, assim não fica muito amargo e o pimento digere-se melhor.







Deitar o caldo numa tigela sobre o pão cortado.







Acompanhar com o toucinho.




As sopas de toucinho podem ser feitas também sem tomate.

Que me dizem a isto? Fácil, barato e simplesmente delicioso. Bom proveito.



E para terminar em beleza, vamos ouvir "Açorda de Coentros e Alhos" do grupo de música popular Alencanto.


(vídeo saboresdoAlentejo)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Lume, castanhas e vinho e viva o S.Martinho

No Alentejo todas as ocasiões são boas para festejar com amigos e familiares. Com o S. Martinho à porta, é a ocasião ideal para que todos se juntem à volta de uma fogueira onde se assam castanhas e partilham alguns petiscos.

Abrem-se as talhas das adegas e prova-se  o vinho novo, a jeropiga ou a água-pé. Neste dia de Magusto “lume, castanhas e vinho” não podem faltar, como também não faltam a música e a boa disposição. Um pouco por todo o lado canta-se, bebe-se, dança-se e festeja-se o dia 11 de Novembro, data em que o cavaleiro Martinho de Tours, num dia de chuva e frio cortou a sua manta com a espada para dar a outra metade a um mendigo que caminhava quase despido. Segundo a lenda, a chuva terá desaparecido dando lugar aos raios do sol. E, desde então, durante três dias, em pleno Outono, temos o Verão de S. Martinho. 
Um gesto cheio de generosidade que se continua a festejar com alegria, um pouco por todas as terras de Portugal mas também deste Alentejo imenso. 
Aproveite, e junte-se a nós. Venha saborear estas deliciosas iguaria e viva o S. Martinho!!!

Saúde!!!!



Mas cuidado com os copos!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Olha o Marmelo!

Este fim-de-semana estava ainda um tempo extraordinário para a época. Peguei nas minhas perninhas e fui passear para o campo apanhar ar.  
 

 
No Outono, sabe bem caminhar pelos trilhos, por entre oliveiras e sobreiros.  Gosto de olhar o horizonte até onde a minha vista pode alcançar. Observo as cores da natureza. O verde das árvores e das ervas que nesta altura, depois de um Verão tão longo, estão secas e com uns tons ocres e acastanhados. No ar costuma pairar um perfume a terra seca. Escuto o cantar dos pássaros e sigo os seus voos.
E assim, caminhei sem destino, até que me deparei com um marmeleiro todo carregadinho de marmelos, perdido no meio da vegetação.
Crescera subespontaneamente no campo, como muitos outros frutos que ainda conseguimos encontrar no campo alentejano.  

Fiquei a observar aquela árvore ali sozinha, e foi então que me apercebi que afinal o marmelo não é só aquele fruto ácido e adstringente que nos arrepia quando o comemos cru.











Se olharmos bem para ele, veremos que o marmelo é também um fruto redondo e amarelo como o sol do Alentejo. Um marmelo é forte como é o calor abrasador do Alentejo, mas se cozido lentamente com um pouco de água e açúcar fica mole e suave como o coração do povo alentejano quando lhe sabemos conquistar a confiança. A sua polpa rígida e amarga torna-se deleitosa como a doçura do tempo que por aqui passa.




É isto que o Alentejo tem de bom. Esta sensação de regresso ao passado, a um lugar por onde o tempo não passou. Aqui existe um ambiente e uma atmosfera que não se conhece noutros sítios.
Um destes fins-de-semana, se tiver ocasião, não hesite, venha caminhar por estes campos alentejanos e leve consigo esta sensação de leveza.

A receita de hoje, como não podia deixar de ser:   


MARMELADA
Ingredientes:
1 kg marmelos
1 kg açúcar amarelo
2 dl água

Descascar os marmelos. Cortá-los aos pedaços e pôr a cozer com um pouco de água e o açúcar amarelo.








Depois de cozidos, triturar.












Colocar a massa obtida em taças ou frascos. Para não ganhar bolor, convém cobrir a marmelada com papel vegetal previamente untado com aguardente.
 



Deixar ao sol para secar.

E que tal, comer esta marmelada acompanhada de umas torradinhas? 
Bom proveito!

Sabia que o marmelo é muito rico em água, vitamina C e pectinas. É indicado para combater a tosse e as diarreias, mas também como fortalecedor do aparelho digestivo.  O fruto e o seu sumo podem ainda ser utilizados como elixir oral contra aftas, problemas de gengivas e dores de garganta. Com apenas 39 calorias, é um fruto recomendado a pessoas com restrições alimentares consequentes de problemas de saúde, como excesso de peso ou diabetes. As sementes podem ser usadas em inflamações cutâneas, queimaduras e hemorróidas. (http://idademaior.sapo.pt/sabores-mediterranicos/sabe-bem-faz-bem/marmelo-o-curandeiro/)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Como é grande o Alentejo


Quanto espaço cabe no Alentejo? Aqui, costuma-se dizer: existe todo o espaço do mundo.


O horizonte não tem fim e, o céu é maior que em qualquer lugar.




Um céu tão grande que ultrapassa todos os territórios, e até as nuvens têm as cores da bandeira portuguesa.
















Por terra e por mar, aqui há espaço para se deslocar. Espaço para ver. Espaço para pensar e relaxar.
Espaço para ouvir. Espaço para sentir, sonhar e amar.







É este espaço que tem moldado a alma do Alentejano. Alma nobre, aberta e amiga. Quem conhece o Alentejo e o seu povo sabe de que estou a falar. Aqui, não há lugar para pequenos sentimentos. O Alentejo é grande como grande é o coração desta gente.

Povo sofrido tem sabido aproveitar melhor que ninguém todos os produtos que a terra lhe tem dado. E é talvez deste céu imenso que tem retirado toda a sua força.
Se como Luísa Basto for ao Alentejo, aproveite  e “Olhe que céu azul com nuvens de poejo veio morar aqui”.



(Canal mariadoalentejo)

E eu, como sempre, quero que após ter estado neste blog saía daqui satisfeito e contente. Por isso, juntando o útil ao agradável, aqui deixo uma pequena receita feita com sobras de pão. Nunca sabemos o que fazer com elas, e custa-nos tanto deitá-las fora, principalmente agora que se avizinham tempos difíceis. Espero que a sua vida fique um pouco mais doce, pois como diz o ditame: “quando não se tem champanhe, bebe-se espumante”.



BOLO DE PÃO

Ingredientes:
250 g de pão
500 g  de leite frio
200 g de açúcar
6 ovos
1 colher de chá de canela
Raspa de um limão
½ cálice de vinho do porto

Caramelo
300 g açúcar
Um pouco de água

Deitar o pão numa terrina e demolhá-lo no leite frio.
Com uma varinha mágica, bater os ovos, o açúcar, a canela, o vinho do Porto e a raspa do limão e o pão demolhado.







Preparar o caramelo, levando +/- 300g de açúcar com um pouco de água ao lume (médio) até formar uma calda cor de caramelo.
Untar uma forma com esse caramelo, juntar o pão e levar ao forno até estar cozido.


Desenforme depois de ter arrefecido e sirva decorado à sua maneira.
Se quiser tornar o bolo mas rico, pode acrescentar nozes ou passas.
Diga lá se não está simplesmente delicioso?